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E Tome Obra!
Uma cidade cada vez menos nossa
Na propaganda de Salvador vemos uma cidade “plural” e feliz. É claro que a agência de comunicação de uma prefeitura vai vender o que há de mais rico na cidade: sua paisagem, sua história, sua cultura, seu povo. Por outro lado, irá maquiar os detalhes “técnicos” de sua gestão. Salvador, cidade historicamente marcada por desigualdades sociais, econômicas e raciais, cidade onde há lugares para os “brancos ricos” e cada vez menos para os “negros pobres”, atravessa uma série de transformações. Mas que tipo de mudança está acontecendo na nossa cidade?
O processo de modernização e embelezamento de determinados espaços desta cidade tem gerado o agravamento da desigualdade e desrespeito às classes pobres. Queremos sim uma cidade mais bonita, que permita o encontro nos espaços públicos e que atenda às demandas das nossas comunidades, mas de que adianta a prefeitura embelezar uma praça, se dá a uma empresa o direito de fazer dela o que bem entender? E gastar R$ 100 milhões na reforma da Barra, quando, ao mesmo tempo, corta linhas de ônibus que levam a periferia à orla?
Não adianta prometer bairros seguros e defender que em cada esquina haja um policial que pode “por acidente” matar alguém ou chacinar 12 jovens como ocorreu no Cabula. Não adianta 'botar' "domingo é meia" se em todos os outros dias da semana o absurdo da passagem está a serviço dos mandos e desmandos do SETEPS. Muito menos colocar um banco para “distribuir” bicicletas a R$ 10 por ano se as ciclofaixas não atendem às necessidades dos ciclistas.
Estamos vendo que a “melhoria na infraestrutura da cidade” não traz benefícios para todos. Do jeito que as mudanças acontecem, estão forçando os mais pobres a sair de suas comunidades, removendo-os de suas casas enquanto os empresários da especulação imobiliária aumentam seus lucros. A especulação imobiliária funciona juntinho do Estado: o político investe dinheiro público na melhoria de uma praça aqui, ‘bota’ uma orla bonitinha acolá, e se aproveita das obras para expulsar os moradores mais pobres e os trabalhadores autônomos destas áreas. Assim a cidade é entregue de bandeja para os empresários fazerem dela o que bem entender. É bem na lógica de uma mão lava a outra, as empresas financiam as campanhas do prefeito e o prefeito... Você sabe. Por exemplo, a prefeitura privatizou a estação da Lapa, afastou os trabalhadores autônomos e pequenos negócios da região bem como autorizou a construção de mais um shopping. Disse que a iniciativa privada teria “melhores condições de gerir o espaço", mas perceba que isso é de lei: primeiro deixam o espaço para os ratos, depois fornecem um monte de facilidades para uma empresa lucrar no lugar. A orla também foi privatizada, três empresas durante 15 anos terão o lucro dos quiosques que serão construídos, isso depois de terem expulsado os barraqueiros da orla soteropolitana à força. ACM Neto também apresentou um projeto para vender 62 terrenos públicos (casarões, praças, pistas de skate etc.) que ao invés de servirem ao povo, serão, se o projeto for aprovado, propriedade dos grandes empresários desta cidade. Como se vê, a cada dia temos uma cidade menos nossa. É tudo deles, nada nosso!
Mudanças positivas seriam criar mais creches públicas e espaços culturais, melhorar o sistema educacional, disponibilizar cursos gratuitos, tudo isto com qualidade, garantias trabalhistas e bons salários para os funcionários. Articular um sistema de transporte gratuito, ampliar a rede de esgoto e pavimentação, investir na recuperação dos rios urbanos... A lista é grande do que poderia ser considerado na “requalificação urbana”.
Se já tivéssemos conquistado voz nos espaços de decisão sobre o futuro da cidade poderíamos gritar no ouvido do prefeito o que bem fazer. Mas a conversa é sempre outra, somos sempre silenciados. O que estamos vendo acontecer em Salvador ocorre também em outras cidades do Brasil, ou seja, é um grande projeto de valorização das classes ricas e expulsão das classes pobres.
As mudanças feitas por ACM, o Neto, daqui a alguns anos prometem aprofundar ainda mais as desigualdades sociais. É preciso impedir e resistir a esta política de “requalificação” que empurra cada vez mais os trabalhadores autônomos e moradores pobres de bairros centrais para longe dos centros. Estas políticas já deram as caras de quem será favorecido e de quem será excluído! A saída jamais será privatizar tudo como tem sido feito. A resposta só pode ser dada junto com a população. Vamos pressionar e discutir, nos organizar para que a cidade tenha as mudanças que o próprio povo deseja a partir de suas livres escolhas.
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